terça-feira, 2 de julho de 2019


Relatos Girolescos por Cléo Cavalcantty


Os alunos da Escola Estadual Conselheiro Quielse Crisóstomo da Silva em Bocaiúva do Sul, ao contrário do que aparenta seus corpos pré adolescentes, parecem que guardam em si um tempo um pouco menos acelerado. O tempo de deixar os questionamentos internalizarem, o tempo de fechar os olhos e refletir antes de  fazer uma pergunta. O tempo de deixar as coisas fazerem morada internamente da maneira necessária, de uma maneira quase pueril, de pedir pra repetir determinada parte do livro que está sendo mediado; ou pelo menos era essa a sensação passada. Os sorrisinhos envergonhados, as mãos tímidas que se levantavam quando eram questionados se eram ou não leitores, tudo num outro tempo, talvez o tempo não reservado aos adolescentes das grandes capitais. Mas esses sorrisos tímidos aos poucos foram quebrados quando as histórias e  vivências partilhadas foram se aproximando das suas realidades.

                                     

Se no início falar sobre literatura pareceu algo muito distante e enfadonho, aos poucos os silêncios iam dando lugar às manifestações e falas espontâneas acerca da família, amizade e violência. Palavras que guiam as narrativas do nosso projeto. Logo, as bocas fechadas se tornaram línguas afiadas para defender que o bullying na visão deles, talvez seja a pior forma de violência, pois não se vê as sequelas por fora. O bullying machuca por dentro. E mata. Disse uma aluna, que logo em seguida relatou a perda da sua melhor amiga, que se suicidou por causa do bullying. 
Não pareceria uma discussão em turmas de 6° ano, se não fosse pelo tempo interno deles.Uma sensação que pra mim pareceu a habilidade de esticar ao máximo o tempo da infância mas, com um olhar atento às transições, às dificuldades e perigos que o futuro reserva. Tudo isso de um modo calmo, atento, sem aceleramentos, de um jeito preciso e lógico, como quem discute matemática.
Um aluno me perguntou, se escolhemos essas três palavras porque elas estão quase sempre juntas em quase todas as histórias. Eu respondi que não tinha pensado sobre isso ainda. Outro me perguntou se eu já sofri bullying na escola. Respondi com outra pergunta:- O que vocês acham?Um coro em uníssono respondeu:-Simmmmmm!Bateu o sinal.
Bom seria que esses encontros “literários” pudessem durar mais que 50 minutos cada.
Pensemos na possibilidade de dar continuidade a esse projeto ;)



Fotos: Edu Camargo (UVstúdio)

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